O que nem todo mundo sabe é que a recuperação de uma tentativa suicida não é nada fácil e exige muita paciência. Sentimentos como o medo e a insegurança surgem fortemente e ficam instaladas no indivíduo, impedindo-o de seguir a vida de forma adequada. Após uma tentativa de suicídio, passei meses sem conseguir fazer nada sozinha, com medo de mim mesma. A sorte de sobreviver a isso mostrou-me o tamanho da força existia em mim, e que até então era desconhecida.
Após uma tentativa
suicida, a probabilidade do indivíduo tentar novamente aumenta. Para aqueles
que acham que após esse feito, o indivíduo desiste de tentar, está muito
enganado. Por mais que seja um tanto traumática, a experiência quebra qualquer
barreira de “falta de coragem”, que antes poderia existir, e a cada tentativa
de tirar a própria vida, o indivíduo tende a agir de forma mais eficaz na
próxima tentativa. É por isso que o acompanhamento deve ser feito com muita
seriedade, e não se deve abrir mão de tratamento psicológico e psiquiátrico.
Nos primeiros
meses os remédios são indispensáveis. No meu caso, tive que tomar remédios que
cortavam os pensamentos suicidas, uma vez que, mesmo após dias internada na
UTI, ainda sentia vontade de tirar a minha vida. Nos primeiros dias em casa,
depois que cheguei do hospital, não conseguia fazer nada, dormia o dia todo e
tinham que me despertar para que eu me alimentasse. Com o passar de quase um
mês “vegetando” na cama, comecei a ter mais vontade de ficar acordada e, para
não me distrair com pensamentos negativos, passava o dia todo jogando no
computador. Eram jogos simples, mas que me distraiam completamente, e embora eu
não fizesse nada além disso, faziam me sentir melhor. Vale ressaltar que toda
semana, uma vez, para ser mais precisa, eu ia com minha mãe fazer a consulta
com a psicóloga, fator esse que foi crucial para a minha melhora.
Ao longo tempo fui
me sentindo incomodada pelos efeitos dos remédios, que incluíam inquietude,
excesso de sono e deixavam minha mente ”fora de órbita”. Conversei com os
médicos e eles decidiram diminuir os miligramas dos medicamentos, foi quando
comecei a me sentir realmente boa e comecei a fazer coisas que até então não
conseguia.
Exercícios físicos
e um cardápio nutricional voltado para o tratamento da Depressão começaram a
fazer parte da minha vida. Nesse período comecei a escrever sobre meu problema
para pessoas na internet e voltei para a Universidade, que faltava apenas o TCC
para me formar.
Claro que nada foi
fácil. Por morar numa cidade pequena, tive que lidar com fofocas maldosas e
ainda encarar de cabeça erguida cada pessoa que não sabia nem um por cento do
que eu já tinha passado na vida para ter cometido um erro tão grande. Mas minha
fé em Deus me deu forças para enfrentar todos os obstáculos que surgiram.
Perdi o contato
com algumas amizades e poderia até dizer que me sentia sozinha. Porém, o foco
na minha recuperação era tão grande, que nada foi capaz de me colocar pra
baixo. Eu lutei como ninguém no mundo poderia ter lutado por mim. Fiz mudanças
simples que provocaram outras mudanças, muito melhores, e sim, para quem
inicialmente apresentava pânico ao andar sozinha ou fazer qualquer coisa, eu
consegui terminar, apresentar o TCC e me formar na Universidade, com nota
máxima.
Após alguns meses,
iniciei a psicoterapia com uma psicóloga especialista. Esse tratamento é
fundamental para a ressignificação dos acontecimentos traumáticos na vida de
uma pessoa, e me ajudou a enxergar a vida de uma outra forma. E foi com certeza
uma das melhores coisas que me aconteceu durante todo esse processo de
recuperação. Atualmente, não tomo remédios e estou a anos sem apresentar crise
de Depressão. E é baseado na minha história de superação que venho por meio
desse relato dar 3 dicas importantes para aqueles que desejam se recuperar,
assim como eu.
- Faça acompanhamento com psicólogo e psiquiatra
Você precisa de
ajuda profissional e de medicamentos. O suicídio é o auge da doença e se você
sobreviveu à tentativa, não pode fugir do acompanhamento rigoroso feito pelos
profissionais especializados para que não venha a repetir o ato novamente.
Respeite o tempo de sua recuperação:
Não apresse seu processo de melhora. Talvez no começo você só queira
dormir, e depois vai surgindo a vontade de fazer outras poucas coisas.
Gradativamente você começa a levar uma vida normal. Não se cobre tanto e
respeite o tempo de cada processo.
Insira Exercícios físicos na
sua rotina:
Quando você apresentar uma melhora mais significativa, escolha uma
atividade física e exercite-se. Essa dica é fundamental e eu aconselho uma
caminhada perto de casa, com alguém que você confie ou sozinho mesmo. O
importante é você ajudar o seu cérebro a elevar a produção de serotonina
(hormônio da felicidade), e a atividade física é insubstituível.
Enfim, espero que tenham apreciado este relato e aproveitem cada dica
exposta. Com luta árdua, podemos alcançar tudo aquilo que desejamos e a
Depressão pode sim ser tratada e superada. Só peço uma coisa a você leitor: Não
desista nunca!

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