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Depressão: Quando a ajuda médica não foi bem o que eu esperava


 Uma das coisas que eu aprendi depois da minha tentativa de suicídio, foi a importância do tratamento adequado tanto com um profissional de psicologia, quanto o de psiquiatria. E óbvio, que depois que melhorei e me senti realmente bem, eu tinha a total consciência de que se um dia voltasse a ter sintomas de Depressão não iria pensar duas vezes em pedir ajuda médica, já que pela primeira vez na vida eu não sentia vontade de morrer e para mim isso foi incrível. Quando a gente passa anos em Depressão profunda, nem sempre sabemos discernir o que é real e o que é a doença. Eu não sabia que era possível viver bem, apesar das dificuldades, sem ter um pensamento suicida em algum momento. 

Seis anos depois da minha tentativa de suicídio, fui procurar ajuda de um profissional pois estava novamente com sintomas de Depressão profunda. Para ser sincera, até demorei para procurá-la. Só depois que os pensamentos de morte surgiram, que resolvi buscar ajuda efetiva. 

Lembro do dia que saí de casa para ir no médico. Fui sozinha e estava bem motivada, porque sentia que estava fazendo a coisa certa e que logo iria me sentir melhor. Mas não foi bem como eu havia imaginado. O médico não mostrou nenhuma consideração comigo, foi grosso e  mal quis me ouvir. Só me empurrou dois remédios e pronto, disse que depois de quinze dias eu deveria voltar para a consulta para possíveis ajustes de dosagem e que se eu não decidisse voltar, avisasse logo para ele não perder tempo e outra pessoa perder a vaga por minha causa. 

Para uma pessoa que chega para você pedindo ajuda porque quer desistir da vida, a última coisa que ela precisa é de uma pessoa ignorante e rude. Se o médico estudou para ajudar, porque ele não ajuda não é mesmo? Eu lembro perfeitamente que fui embora chorando e decidida de que foi a pior decisão que eu havia tomado ( a de pedir ajuda).

Tomei os remédios que ele passou (que não eram indicados para o meu quadro) e o resultado foi uma crise fortíssima de pânico, que me fez deixar o trabalho no meio do expediente. Então decidi que iria me afastar e buscar ajuda de um médico particular (o anterior era de postinho de saúde). Fui um pouco insegura, mas sentia que o fato de estar pagando iria me dar no mínimo um tratamento educado e com mais empatia. 

Como já estava me sentindo bem pior, fui com a minha mãe. Coloquei um pó na cara, ajeitei minha sobrancelha e coloquei um gloss bem discreto. Só para não preocupar ainda mais minha mãe, porque ela sabe que sou vaidosa e se eu saísse sem me arrumar ela veria que realmente eu estava muito mal. Já fiz ela sofrer demais com minha tentativa de suicídio passada, não queria que ela sentisse medo de sofrer aquilo tudo de novo, e possivelmente muito pior.

Quando cheguei no consultório, entrei sozinha. Afinal não iria me sentir a vontade de dizer tudo que eu estava sentido para o médico, com a minha mãe bem do lado. Entrei e ele me fez as perguntas básicas, e quando eu comecei a falar ele começou a me interromper. Disse que quem tem Depressão não entra sozinha na sala do médico, nem faz a sobrancelha. Que ler sintomas no google sobre a doença não adianta, porque ele como médico sabe quando alguém está mentindo (ele insinuou que eu estava fingindo só para não trabalhar). Ele falou tanta coisa e  não quis me ouvir. Eu comecei a ter uma crise de Ansiedade muito forte na hora e comecei a chorar desesperadamente. 

Só o que ele fez foi dizer que havia me provocado para me testar e ver se eu realmente estava mal. E disse isso achando que estava super certo e que era um método profissional de lidar com uma pessoa que só queria ajuda para se tratar de uma doença que estava ameaçando a vida dela. Depois disso ele trocou meus remédios e mandou eu voltar lá depois de trinta dias. Claro que eu não voltei.

Fui pra casa e me senti muito mal. A cada consulta com médicos despreparados, o nosso emocional vai afundando cada vez mais. E eu estava tão esgotada que decidi, depois de trinta dias, buscar uma última ajuda. Eu decidi que se o terceiro médico me tratasse mal eu desistiria de tentar em todos os  aspectos. Foi quando decidi procurar dessa vez uma Psiquiatra (também no particular). Foi a primeira profissional mulher que eu passei e finalmente uma médica profissional.

Ela me ouviu por horas. Falei sobre os casos dos médicos anteriores e ela confirmou que não entende porque existem tantos psiquiatras que tratam seus pacientes assim, sendo que eles escolheram lidar com essas situações que envolvem o emocional. Ela quis saber de toda a minha vida, de tudo que eu estava sentindo e passando e depois de mais de uma hora falando ela decidiu trocar meus remédios. A diferença é que além de me ouvir ela de fato se mostrou disposta a me ajudar a melhorar. 

Ela disse que eu ia ficar bem e me fez acreditar nisso. Foi um alívio ir em busca de ajuda e de fato receber sabe. O que eu quero te mostrar com esse meu relato é que nem sempre você vai encontrar o que precisa na primeira tentativa. É necessário insistir e lutar. Nem todo médico realmente é profissional e você não deve achar que não existe esperança só porque uma pessoa foi imbecil com você. 

A caminhada da Depressão é muito solitária. Você se sente na escuridão enquanto vê o mundo que aparentemente está todo na luz. E quando você vai em busca de ajuda e não recebe, tudo parece ainda pior e sem sentido. Mas não desista. Busque quantas vezes for necessário, diversos meios que te ajudem a ficar melhor. A depressão não é um destino, ela é uma doença que nos faz sofrer demais. Mas a gente pode se sentir bem de novo. Pode apostar nisso: cada esforço que você faz para melhorar nunca é em vão!

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