Ao longo da minha vida, tive diversas crises de Depressão, mas irei dar destaque a duas em especial, para compartilhar com vocês o que eu achei de mais diferente entre uma e outra. A primeira em questão, foi a minha crise em 2015 que me levou a uma tentativa de suicídio. Nessa época eu tinha 21 anos, estava me formando na faculdade, tinha acabado de entrar em um relacionamento, estava desempregada e morava com minha mãe e irmãos.
Já não estava me sentindo bem a muito tempo, me sentia muito sozinha e perdida. Estava em um desespero extremo e nada ao meu redor me animava mais. A minha tentativa de suicídio na época, me levou para a UTI e devido ao impacto do acontecimento eu não queria mais voltar para a faculdade (só faltava o TCC para terminar).
Depois de muito tratamento profissional, quando recebi alta do hospital decidi terminar meu curso e consegui me formar. Estava me sentindo bem como nunca tinha me sentido na minha vida, mas tive que lidar com os questionamentos dos outros sobre o porque de eu ter tentado tirar minha vida. O melhor foi a maioria das pessoas tentando me consolar como se minha atitude fosse condicionada pelo fato do termino do meu "relacionamento".
Uma vida cheia de tristezas e decepções, com Depressão desde os 7 anos e as pessoas ainda reduzem tudo a um desespero juvenil, ao invés de tentarem entender que eu não estava bem. Que era tudo fruto de uma doença chamada Depressão. Acredito que na época consegui melhorar porque não tinha muito com o que me preocupar. Consegui focar totalmente no meu tratamento.
A minha próxima crise depois dessa, foi aos 27 anos. (Hoje estou com quase 29). Dessa vez o cenário foi bem diferente. Atualmente trabalho, moro com meu marido e sou independente. Os primeiros sinais surgiram um pouco antes da pandemia. Dessa vez começou com sintomas de ansiedade (que nunca havia sentido antes). Meu trabalho estressante não contribuiu muito, ou melhor, na verdade contribuiu muito para a minha piora.
Fui diagnosticada com Depressão profunda (mais uma vez) e de brinde ganhei um Transtorno de Ansiedade Generalizada. Os sintomas gerais que incluem tristeza contínua e pensamentos suicidas são os mesmos em todas as crises, mas dessa vez tudo ao meu redor estava diferente.
Como já tentei suicídio, eu sei exatamente como eu afetei a minha família com esse choque. Eu não quero ter que fazer eles passarem por tudo outra vez, e com o grande risco de ser ainda pior. Também penso no meu marido e em como eu poderia causar um trauma nele. Afinal, chegar em casa e encontrar alguém que você ama sem vida marca você pro resto da sua vida.
É como se eu pensasse mil vezes mais em tudo. Me sinto mais sufocada, porque parece não haver mais saída. E embora eu me sinta tão triste e não tenha a menor energia para fazer nada, eu ainda insisto em fazer porque não quero simplesmente fazer as pessoas que amo sofrerem.
A verdade é que eu não quero ser uma mulher de quase trinta anos com um segundo histórico de tentativa de suicídio. Porque se dessa vez eu sobrevivesse de novo, só de pensar no que eu teria que lidar depois (as pessoas questionando) dá muita preguiça. Então eu tento usar a força que eu tenho para me derrubar, para tentar me levantar novamente.
Parece que eu tenho um senso maior de responsabilidade com os outros. Quando eu era nova, eu não tinha muitos laços. Afetaria minha família, mas provavelmente eles estariam vivendo a vida deles mais conformados depois da perda (era o que eu pensava). Mas hoje, só de lembrar que toda vez que minha mãe enche os olhos de lágrimas quando lembra do irmão dela que se matou quando ela tinha por volta dos 8 anos, eu fico imaginando a dor que eu causaria se ela tivesse que passar pela perda de uma filha para essa doença tão dura que é a Depressão.
Talvez, esses pensamentos mais complexos estejam me dando uma espécie de suporte para não desistir de vez sabe. E não quero ter que me segurar nesse suporte por muito tempo, mas por enquanto ele tem sido de boa ajuda para eu me focar no meu cuidado.
Essa é a maior diferença. Eu sempre soube que teria outra crise novamente, afinal mais de vinte anos com Depressão te faz ter mais pé no chão. Claro que alguns traumas graves me afetaram depois dos 21 anos e isso me levou a uma recaída na Depressão. Mas nenhuma crise se torna mais fácil. Essa atual é umas das piores que já tive, inclusive pior do que a que tive quando fui parar na UTI.
Literalmente sou eu por mim. Eu tenho que me mover para me ajudar a levantar. Não tenho mais minha mãe todos os dias me observando para ver se estou bem, se já comi, porque a gente sabe que só mãe nos observa desse jeito. Agora preciso cuidar de mim e ser forte por ela. Porque um dia se eu for mãe, eu quero ser o porto seguro do meu filho e estar bem mentalmente para cuidar dele nesse mundo tão difícil.
Dessa vez, embora eu posso me afastar do trabalho para me cuidar, eu não posso tirar férias das minhas obrigações. Ninguém vai parar a própria vida para me ajudar a cuidar da minha nesse momento. É como se só eu estivesse presa nesse buraco, enquanto as pessoas ao meu redor estão bem.
Espero que tudo isso passe, e quando passar eu vou compartilhar tudo com vocês como fiz da primeira vez.

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